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Inúmeros pilares, hoje, são fundamentais para o controle e a cura do câncer. No entanto, é fato consolidado, em inúmeros estudos internacionais, que a integração multidisciplinar da cirurgia, quimioterapia, radioterapia e radiologia intervencionista estão entre os principais caminhos para melhorar esses números. A radiologia intervencionista, por exemplo, é um novo pilar para a oncologia, que permite que sejam guiados procedimentos minimamente invasivos através do uso de tomografia e ultrassom. É o caso de uma nova tecnologia inovadora denominada “microwave”. Embora ainda seja pouco comum no Brasil, Passo Fundo tem se mostrado pioneira na realização do procedimento. A metodologia foi utilizada recentemente no município, para o tratamento de um paciente catarinense, sendo o primeiro caso registrado no interior do Rio Grande do Sul.
De acordo com o oncologista gastrointestinal do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica (CITO), Luís Alberto Schlittler, responsável por indicar o procedimento, o paciente que utilizou a estrutura e tecnologia em Passo Fundo apresenta câncer de intestino há vários anos e teve recorrência da doença atingindo o pulmão e o fígado. Após discussão em um grupo multidisciplinar, onde todas as especialidades médicas estavam reunidas, optou-se pelo uso da tecnologia “microwave” [“micro-ondas”, na tradução para o português], com poucos casos realizados no Brasil. “Mesmo pacientes com doença metastática, estágio clínico IV, que atingiram outros órgãos, podem atualmente ter sua doença controlada ou até mesmo curada com métodos pouco invasivos – como ablações, biópsias e o uso de medicamentos intraarteriais. O paciente atendido em Passo Fundo, por exemplo, recebeu alta em 24 horas após o procedimento, sem restrições, retornando às suas atividades habituais com família e trabalho”, relata.
Com este método inovador guiado por uma tomografia computadorizada e o uso de anestesia, é possível inserir uma agulha no fígado e no pulmão do paciente. A extremidade da agulha é colocada no interior do tumor, exatamente dentro do nódulo tumoral. “Após termos certeza que estamos com a agulha bem posicionada, entra em ação o equipamento que transmite uma energia especial que ‘queima’ o tumor e uma área adjacente ao seu redor, uma área de segurança. Atingimos o tumor e ao redor dele para as células não voltarem a crescer”, explica o oncologista.
Existem no mercado vários tratamentos chamadas ablativos – que usam corrente térmicas como radiofrequência (que usa calor), crioablação (que usa frio) e a mais recente chamada de “microwave” (que usa ondas de micro-ondas). A ablação por micro-ondas através de agulhas inseridas pela pele do paciente é uma terapia ablativa térmica, que consiste na produção de um campo eletromagnético por um gerador, transmitido por uma antena, que provoca agitação e fricção entre moléculas de água dentro do câncer e determina aumento da temperatura local até atingir entre 60°C e 150°C. Este processo provoca necrose tecidual coagulativa, ou seja, a morte da células tumoral por coagulação.
Procedimento permite melhor recuperação do paciente
Ainda conforma Schlittler, entre as muitas vantagens da ablação por micro-ondas, em comparação com a ablação comum por radiofrequência, estão: temperaturas mais elevadas com áreas atingidas maiores, o que confere maior eficácia; menos tempo de tratamento e anestesia, durando cerca de 20 a 30 minutos; menor chance de atingir órgãos não doentes ao redor do tumor, por haver maior precisão; a chance de o paciente evitar uma cirurgia que poderia ter difícil recuperação, com mais dias de hospitalização e pós operatório com mais sintomas do procedimento, como dor, infecção e sangramento.
Os relatos de uso clínico desta modalidade terapêutica datam desde a década de 1990, em locais como a Europa e os Estados Unidos. Ela pode ser usada sítios de metástases, principalmente no fígado, pulmão, rim e osso. No Brasil, por outro lado, essa ablação foi autorizada apenas no final de 2018. Os dois primeiros casos de ablação por micro-ondas no país, sendo um de lesão pulmonar e outro de lesão hepática, foram realizados em maio de 2019 no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.